quinta-feira, 16 de junho de 2011

ALMAS PERFUMADAS - CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

Um dia, Carlos Drummond de Andrade, falando de pessoas queridas,
aquelas que só trazem coisas boas para nossa vida,
que só buscam leveza e bem-estar e que jamais nos envolvem em seus egoísmos e reclamações, amigos abençoados disse:

"Tem gente que tem cheiro de passarinho quando canta.
De sol quando acorda. De flor quando ri. Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça. Lambuzando o queixo de sorvete. Melando os dedos de algodão doce da cor mais doce que se tem para escolher. O tempo é outro. E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver.

 

Tem gente que tem cheiro de colo de Deus. De banho de mar
quando a água é quente e o céu azul. Ao lado delas, a gente sabe
que os anjos existem e que alguns são invisíveis. Ao lado delas, a gente se sente chegando em casa e trocando o sapato pelo chinelo. Sonhando a maior tolice do mundo com o gozo de quem não liga para isso. Ao lado delas, pode ser abril, mas parece manhã
de Natal do tempo em que se acordava e encontrava o presente de Papai Noel.

Tem gente que tem cheiro das estrelas que Deus acendeu
no céu e daquelas que conseguimos acender na Terra. Ao lado delas, a gente não acha que o amor é possível, a gente tem certeza. Também sente visitando um lugar feito de alegria. Recebendo um buquê de carinhos. Abraçando um filhote de urso panda, daqueles bem gorduchos. Tocando com o olhar os olhos da paz. Ao lado delas, saboreamos a delícia do toque suave que sua presença sopra em
nosso coração.

Tem gente que tem o cheiro de cafuné sem pressa.
Do brinquedo que a gente não largava. Do acalanto que o silêncio canta.
De passeio no jardim. Ao lado delas, a gente percebe que a sensualidade é um perfume que vem de dentro e que a atração que realmente nos move não passa só pelo corpo.  Corre em outras veias.
Pulsa em outro lugar. Ao lado delas, a gente lembra que, o instante em que rimos, Deus está conosco, juntinho ao nosso lado. E a gente ri grande que nem menino arteiro.

Tem gente que nem percebe que tem a alma perfumada"

Um comentário:

  1. O texto é de autoria de Ana Claudia Saldanha Jacomo. Esta no seu livro Parto de mim, João Leon

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